E cá estou, sempre indagando a
mim mesma. Quem sou? Qual o meu papel, meu lugar? Qual a minha voz em meio a
tantas? Será que eu, tão pequena, tão ordinária em minha vida, tenho algum
valor? Gosto de pensar que sim. Como já disse milhares de vezes, sempre creio
nas menores coisas como sendo as mais maravilhosas, que mais brilham. Mas eu
não me encaixo. Rio contigo, pulo aqui, acolá, tropeço nas calçadas de todos os
bairros, todas as vidas. Não estou em local algum, com ninguém, nunca. Tento
prender-me a alguém, sou tirada a força. Tento chamar tal lugar de lar, mas me
chutam para fora. Não tenho casa, não tenho nome, não tenho dono. Quero possuir
as pessoas, suas dores, suas alegrias, e quero que possuam as minhas também,
mas não dá. Uns querem posse, outros liberdade. Estou livre demais, quero ser
presa. Quero ser presa por um amor qualquer, uma vida simplista e aberta na
qual seja livre para cantar, cair, viajar dentro do calor dum cobertor. Não
quero liberdade falsa, não quero ser de todos; porém, eu sinto ser. Sinto ser
tua amiga, confidente, entendedora. E para quem quer nada além da paz, sentir
todos assim é uma maldição e uma dádiva. É amar sem fronteiras, mas sem aquela
sonhada liberdade própria.
Letícia Castor Moura'